domingo, 4 de fevereiro de 2024


 BLOCO DA NÊGA FULÔ DESFILA MAIS UMA VEZ NO DOMINGO DE CARNAVAL - 11 DE FEVEREIRO NA RUA FECHADA, ORLA DA PONTA VERDE. SEM CORDA TODOS PODEM PARTICIPAR DO DESFILE. CONCENTRAÇÃO ÀS 14 HORAS NA PRAÇA DOS 7 COQUEIROS.. TODOS CONVIDADOS. BLOCO ABERTO AO PÚBLICO.

 

BANHO DE MAR À FANTASIA

                                                             

 


       Em Maceió, os carnavais de outrora eram a suprema alegria, alto astral fazia bem ao espírito e à cabeça dos foliões dessa terra bonita, onde todos se conheciam, se amavam. No carnaval a ordem era cair no passo, dançar o frevo, sambar, se esbaldar, curtir, namorar.

          A temporada carnavalesca começava com o chique Réveillon do Clube Fênix, logo após vinha o esperado Baile de Máscaras, só entrava com fantasias e máscaras obrigatórias ou traje a rigor. Os foliões pulavam até o Sol raiar e um banho de mar amanhecendo o dia na praia da Avenida da Paz. Enquanto a moçada esperava o carnaval, aos sábados tinham as festas pré-carnavalescas: Noite no Havaí, Preto e Branco, Baile Tricolor. Os surdos e tamborins começavam a esquentar nessas festas, onde a paquera era escancarada.

Durante a quinzena anterior ao carnaval, a Prefeitura organizava uma animada Maratona Carnavalesca toda noite na Rua do Comércio, com corso de carros rodando e muito frevo. As jovens desfilavam sentadas nos para-lamas dos carros, jipes e caminhonetes. Em cada esquina havia uma orquestra tocando o frevo. Ali se misturava a burguesia, a classe média, o povão, os estivadores, as empregadas, soldados, pedreiros, lavadeiras. A Maratona Carnavalesca emendava com o carnaval, só terminava quarta-feira de cinzas.

  

No domingo anterior ao carnaval a Avenida da Paz lotava de gente de toda espécie e classe social. A partir das oito da manhã começavam a aparecer as troças, as fantasias, as críticas, os blocos de frevo, as Escolas de Samba para o grande desfile do Banho de Mar à Fantasia coordenado pela COC - Comissão Organizadora do Carnaval da Prefeitura de Maceió. Nas imediações do Clube Fênix um palanque dava guarida para uma banda tocar músicas de carnaval e o povo na rua pulava e dançava até mais tarde no maior calor. Depois de passar pela Comissão Julgadora, alguns fantasiados caiam no mar, um mergulho com fantasia no corpo, na água límpida do mar da Avenida da Paz.

         Iniciava o desfile oficial perante o palanque com os jurados escolhidos pela COC para entregar as taças de campeão. Primeiramente vinham as críticas e troças com a irreverentíssima turma do Bráulio Leite, Santa Rita, Rubens Camelo, Vadinho, Alipão, João Moura, Pitão, Napoleão. Esses não perdoavam governo e governantes. Depois vinham fantasias. Tarzan e sua esposa eram o casal devorador de prêmios. Havia um grande folião, Fusco, militar da aeronáutica sempre gozava um enredo de um filme da época. Certa vez, o filme do momento era “Amar foi minha ruína”, Fusco fantasiou-se de moça grávida, e nas costas, um cartaz: “Amar foi minha ruína”. Lincoln Jobim um especialista, fantasiava-se de Seu Fortes, um louco conhecido na cidade, maltrapilho, à sua volta alguns cachorros, Lincoln era um artista, imitava Seu Fortes melhor que o próprio.

      O desfile finalizava com a competição entre os blocos carnavalescos: Vulcão, Bomba Atômica, Pitanguinha vai à Lua, Vou Botar Fora, Cara Dura, Cavaleiro dos Montes, Amigo da Onça, disputa era acirrada.

Depois de passar pelo palanque dos jurados e receberem prêmios, os blocos continuavam arrastando as multidões pela avenida, atravessavam a ponte do Salgadinho e perto do coreto entravam na Rua Silvério Jorge, onde o general Mário Lima, em sua casa, esperava cada bloco com bate-bate de maracujá, cerveja gelada e um bom tira-gosto para os músicos. O bloco tocava 4 ou 5 frevos, depois seguiam em frente; outro bloco já estava na porta. Minha casa era uma festa, amigos dançavam, faziam o passo na enorme varanda durante o restante da tarde-noite.

        Figuras das mais conhecidas entravam no embalo, badaladas senhoras, misturavam-se com o povão, era a democracia carnavalesca. Atrás dos blocos pulavam engenheiros e serventes, médicos e enfermeiras, capitão e soldado, filhas de Maria e prostitutas.  Os blocos terminavam de tocar em minha casa ao anoitecer, antecipando o carnaval. Namoros feitos, outros desfeitos, a alegria do carnaval tomava conta da juventude.

      À noite o povão voltava para suas casas. Cansados, os blocos recolhiam seus estandartes esperando o carnaval chegar na próxima semana.

  

 

domingo, 18 de abril de 2021

OS GRANDES FILMES DA HUMANIDADE - FESTA DE BABETTE - DINAMARQUÊS


 

AVENIDA DA PAZ ANOS 60.

Dayse, Di Menezes, Bebeth, Betuca, Teca e Sônia.

 

NEVER MORE - Carlito Lima

 

NEVER MORE

Há três anos viajei à Disneylândia por insistência de meus amados netos. Passei alguns dias na terra do Mickey e Pato Donald. Essa tal de Disneylândia não passa de um imenso supermercado de fantasia infantil construído na cidade de Orlando. Estranhei a temperatura, a previsão entre 12 a 25º centígrados furou, deu todos os dias 5 (cinco) graus, quase morro de frio, uma Sibéria para um nordestino rato da praia de Jatiúca. Tudo é longe. O acesso aos parques temáticos fazia-se apenas de carro, alugamos uma van que deixávamos estacionada numa área especial.

Um trenzinho circulava levando os visitantes aos parques. A entrada custava na época U$ 89,00 por pessoa; impossível conhecer todos os parques em uma semana. Meus netos adoraram o Magic Kigdom, Harry Portter, Sea Word entre outros. Gostei apenas do EPCOT CENTER, uma extensa área com divisórias separando as regiões de 12 países. Degustei um pouco da comida e bebida de todo o mundo, saí meio de porre.

Orlando é uma cidade central da Flórida, um estado “comprado” à Espanha, aliás, os estados limítrofes sul dos Estados Unidos pertenceram à Espanha. Califórnia, Texas, foram incorporados aos USA em tenebrosas transações internacionais, a maioria das cidades conservam nome hispânicos, Los Angeles, San Francisco, San Diego, etc…

No final dos anos 60 o desenhista Walt Disney comprou uma imensa área em Orlando, construiu uma máquina de dinheiro vendendo sonhos infantis. A Disneylândia foi inaugurada 1971, deu certo, construíram mais parques temáticos. A cidade de pouco mais de 200 mil habitantes vive à base do turismo planejado, profissional, produto típico do capitalismo organizado americano, tudo é pago, até contemplar a natureza no Lago Buena Vista. Os parques, hotéis, restaurantes, shoppings, outlets, ficam distantes, não existe possibilidade de ônibus. Incrível, não encontrei uma livraria nos Shoppings ou na cidade.

Gente de todo mundo gastando dólares, muitos dólares. Num “Outlet” perguntei a um mineiro se a “ilha” onde vendia travesseiros lhe pertencia, sorriu de minha inocência. Todas as lojas do “Outlet” são de um grupo de comerciantes judeus, 250 lojas vendendo todo tipo de artigos em promoção, turistas de diversas nações comprando, escandinavos, francês, americanos, ingleses, indianos, paulistas, colombianos, palestinos e muitos americanos deixando seus dólares. A Disneylândia não passa de máquina urbana sugando o dinheiro do mundo. Impressiona a qualidade de vida dos habitantes, todos têm carros enormes chupadores de gasolina, entendi porque de olho no petróleo do mundo os USA fomentam tantas guerras. O dia que o petróleo acabar, acaba a farra gastadora da “way of life” americana.

Surpreendeu-me a população americana, gente de todo os Estados Unidos tem a Disney como objeto de consumo. A maioria supergorda, geração do “fastfood”, hamburgo, batata e muita fritura. A obesidade na juventude é questão de saúde pública no país.

A mão de obra subemprego como, camareira, lojista, taxista geralmente são dos hispânicos, muitos estão irregulares. Um taxista marroquino, me confidenciou, estava há dois anos nos USA, trabalhava para juntar dinheiro e voltar para Marrocos, ainda solteiro, entretanto, pretendia casar-se quatro vezes como permite o Alcorão. Suas mulheres vão andar de véu, só mostrarão o rosto para o marido. Sugeriu que eu lesse o Alcorão onde está a verdade do Universo, só terá vida eterna quem obedecer aos seus ensinamentos. Vou comprar um volume, fiquei interessado no capítulo das mulheres, quem sabe? Um dia posso precisar.

Como bom avô, tomei conta dos netos enquanto os adultos iam às compras. No hotel organizei concurso de piadas, ensinei jogos educativos: porrinha, dados, carteado, pôquer, buraco, ficaram viciados no “sete e meio”. A convivência, a alegria, a felicidade dos netos compensaram os dias na Terra do Mickey. Voltar? “Never more!”.


sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

SEXTAS CLÁSSICAS EM JARAGUÁ EM MAIO

 


A Associação Cultural Alagoa do Sul, convida a todos maceioenses para as 4 apresentações das SEXTAS CLÁSSICAS EM JARAGUÁ no mês de maio. Concerto de música clássica com uma Orquestra Filarmônica, logo após canto lírico de um tenor ou uma contralto. E o povão maravilhado assistindo ao vivo, um sonho para eles. Lei Aldir Blanc SECULT-AL.

CARNAVAL 2022

 Vamos começar a pensar, junto com a Prefeitura, em um grande carnaval de 2022 com patrocinadores de peso. Carnaval é a síntese da Economia Criativa, todos ganham, desde os músicos, os ambulantes, os hotéis, as costureiras, eletricistas, montadoras, fábricas de camisas, taxistas, restaurantes, sorveteiro, ambulantes; os turistas adoram. Maior burrice surreal: Maceió passou mais de 15 anos sem carnaval para não icomodar turista, eu ouvi isso de autoridades. Queremos um novo carnaval na cidade de Maceió. Em 2019 e 2020 já foi delineada uma programação pela FMAC com um Polo Carnavalesco na Orla durante os 4 dias de carnaval, foi sucesso, precisa apenas acertar alguns pontos. Pensando em 2022 fata apenas um ano. Não exite condições de um carnaval em 2021, preservemos nossa saúde, nossas vidas.


CSA empata com o Figueirense e volta ao G-4 da Série B Azulão ultrapassa o Juventude e assume a quarta colocação.


 

SEXTAS CLÁSSICAS EM JARAGUÁ - VEM AÍ EM MAIO - PRODUÇÃO DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL ALAGOA DO SUL - LEI ALDIR BLANC - SECULT AL




 

UMA HISTÓRIA DE AMOR - 51 de casados 9/1

 


UMA HISTÓRIA DE AMOR - 51 de casados 9/1

No longínquo ano de 1963, eu, tenente do Exército Brasileiro servindo na Bahia, passei as férias de verão, como de costume, em Maceió. Certo dia minha irmã Rosita convidou-me para visitar o acampamento das bandeirantes, com mil recomendações para não me enxerir com as moças. Quando olhei aquela galeguinha de 15 aninhos, não pude deixar de cantar uns versos da ciranda no ouvido: “Oh menininha você é tão bonitinha… Engraçadinha… Vou me casar com você…”
Anos depois, já como capitão no 20º BC em Maceió e fazia a Faculdade de Engenharia. Solteiro, com outros amigos, éramos os donos da cidade.
Até que um dia de 1968 encontrei aquela bandeirante bonitinha que havia retornado dos Estados Unidos. Ao me deparar novamente com a galeguinha, me apaixonei e logo cumpri a premonição da ciranda cantada em seu ouvido. No dia 9 de janeiro de 1970 casei-me com Vânia na Catedral Metropolitana de Maceió.
A despedida de solteiro foi no Bar do Miltinho. A noitada foi maravilhosa, o bar se encheu de amigos, colegas da faculdade, empresários, militares, pescadores, políticos, um padre. De repente chega um amigo da Viçosa com um Insquenta Muié, cantando: A minha turma que bebe um pouquinho… no bar do Miltinho… até o sol raiar.
Entrei na Catedral lotada, fardado de capitão pelos braços de Dona Zeca. A Banda de Música do 20º BC tocou belas músicas durante a cerimônia elegante. Depois da cerimônia, no sair da Igreja, os colegas do Exército fizeram a abóbada de aço com as espadas cruzando no ar, uma tradição no casamento militar.
Assim de passaram 51 anos daquele casamento alegre, com muito bom humor dos amigos e dos noivos. É preciso boa dose de amor e de tolerância para se passar 51 anos juntos. Nada é fácil, não houve céu de brigadeiro o tempo todo, algumas turbulências e até rotas de colisão.
Em 51 anos construímos juntos um belo patrimônio: 3 filhos e 3 netos, além de genro e nora.
Nesses anos de convivência tornei-me admirador dessa professora que aos 40 anos resolveu enfrentar um vestibular de Direito, formou-se e montou um escritório de advocacia. Essa advogada que passou quase dois anos sem folga, sem sábado e domingo, estudou e passou no concurso de Promotor de Justiça. Dessa mulher atarefada que arranja tempo para dedicar-se aos filhos crescidos, a levar os netos às aulas de inglês, de tênis, de natação. Dessa mulher que trabalha com amor e alegria e possui uma felicidade intrínseca e encantadora. Dessa mulher forte que não se deixa pisar. Dessa mulher que gosta de bons livros, de bons filmes, teatro, música, show e da cultura popular e me incentiva em minhas loucas invencionices. Dessa mulher animada que faz o passo atrás de um bloco de frevo nos dias de carnaval. Dessa mulher que gosta de viajar perambulando pelo mundo, Cartagena, Praga, Berlim, Nova York, Paraty, Lisboa. Dessa mulher que nunca deixou de ser professora, ensina aos netos, dá palestras nas Igrejas e nas Festas Literárias do Brasil afora. Dessa mulher que move montanhas defendendo seus direitos, como uma loba defende seus filhotes. Dessa alegre mulher que ama as colegas de colégio e infância e conserva o carinho de suas amigas em encontros e almoços, aproveitando essa bonita e última fase madura da vida.
Dessa menina que um dia encontrei em flor de seus 15 anos num acampamento de Bandeirantes, e eu tenente, cantei pra ela em premonição: “Ôh Galeguinha você é tão bonitinha… engraçadinha… vou me casar com você”. Sou um homem privilegiado, a única pessoa no mundo a conhecer profundamente a gentileza, a bondade, a perseverança, a força dessa mulher. Dessa minha mulher-amante, timoneira do barco de nossas vidas. Vânia aprendeu a remar com o tombo do navio, com o balanço do mar. Navegar foi preciso. Essa mulher segurou forte o leme nos poucos maremotos. Hoje navegamos apenas em calmaria, enxergando, ao longe, outros mares ou um porto final além do horizonte.
A inexorabilidade do tempo é fatal, qualquer dia desse eu parto para o além do horizonte. Quando eu não estiver mais a seu lado deixarei lembranças e quero que você sempre saiba que foi a razão do meu viver. Lhe amar foi para mim uma religião. E que nos seus beijos eu encontrava o calor que me brindava no amor e na paixão. Nós somos uma história de um amor como não há outro igual que me faz compreender todo o bem e todo o mal. Você deu luz a minha vida e quando eu não estiver mais aqui, lembre-se de mim com alegria cantando, penando e ainda me amando: “Já não estás mais a meu lado coração…”.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO (9)
Acordei-me com o som cadenciado e harmonioso da alvorada tocada pelo corneteiro. Amanhecia o dia 1º de abril de 1964, eu tenente do Exército Brasileiro, dormia no quartel na 2ª Companhia de Guardas, tropa de elite do IV Exército, altamente treinada contra distúrbio e guerrilha urbana, sediada na Avenida Visconde de Suassuna, Centro do Recife. Uma luminosa manhã acordava a bela histórica cidade mauriciana. A Companhia estava de prontidão há mais de uma semana, sem algum militar sair do quartel devido aos acontecimentos políticos da época. O presidente João Goulart acendia uma vela a Deus outra ao Diabo (disse Julião). O processo de desgaste político do presidente espalhou-se sobre a Nação. Jango pensava ter um esquema militar forte comandado pelo General Assis Brasil, inclusive o General Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército, jurou de pés juntos a Arraes que defenderia a legalidade. Quando a conjuntura mudou, ele também mudou. A situação ficou mais nebulosa depois do grande comício das reformas em frente ao Ministério do Exército, dia 13 de março, com muitos discursos provocativos às Forças Armadas. Jango estava cutucando a onça com vara curta. As informações que nos chegavam era que Jango daria um golpe transformando o Brasil numa República Socialista Sindicalista.
Naquela bela manhã logo depois da formatura matinal, o capitão Luís Henrique Maia reuniu os cinco tenentes comandantes de pelotão, fez uma preleção.
- Chegaram informações que a tropa do general Mourão Filho de Minas Gerais estava a caminho do Rio de Janeiro para levantar o I Exército, e depor o presidente João Goulart. O General Assis Brasil deu ordens para uma tropa sediada no Rio marchar de encontro e deter a tropa do General Mourão, acontece que a tropa do Rio aderiu e se juntou à tropa do General Mourão, que ruma ao Rio De Janeiro. O objetivo da intervenção militar será restabelecer a ordem no país, garantir a eleição para presidente em 1965 e evitar um golpe do presidente João Goulart estabelecendo um regime socialista.
O capitão Maia mandou preparar o pelotão para o enfrentamento, entrar em combate urbano a qualquer momento. Informavam que tropas do Estado do Governador Miguel Arraes estavam altamente armadas e bem preparadas por guerrilheiros cubanos e chineses.
Dirigi-me ao alojamento de meu pelotão, com a cabeça a mil, sabia que haveria uma confrontação naquelas próximas horas. Ainda estava em divagações quando o comandante me chamou e deu as primeiras ordens: Dissolver uma manifestação no Sindicado dos Bancários, ficava distante cinco ou seis quilômetros. Ordenei ao pelotão entrar em forma, passei em revista o armamento e equipamento, falei aos sargentos e soldados sobre a missão, deixei bem esclarecido: atirar só com minha ordem. O pelotão tomou a rua, formação em cunha. Enquanto aqueles 44 soldados bem armados e equipados avançavam pelas ruas arborizadas, ouvi vaias e palmas, era o povo dividido. Enquanto o pelotão se aproximava do objetivo, eu continha a emoção, pensando nas informações que os sindicalistas, os camponeses, os homens de Arraes junto à Julião e Gregório Bezerra tinham sido treinados em guerrilha e possuíam armamento de primeira linha. Assim que avistei ao longe a multidão em torno de 400 pessoas, tive de controlar um sargento que me pedia para dar um tiro para o alto a fim de dispersar a multidão. Mandei o sargento se aquietar, lembrei que o comando era meu exclusivo. Não queria que houvesse uma reação por parte dos manifestantes e terminar numa carnificina de balas dos dois lados. Tentaria um diálogo, se possível. O pelotão se aproximou, dava para ver as fisionomias dos manifestantes, o sargento insistindo, me pedindo para atirar; eu reprendi, NÃO ATIRE!. Chegando mais perto, gritei a voz de comando ao pelotão “Acelerado marche!”. Os soldados passaram da marcha comum ao acelerado, correndo em passos curtos, o que se ouviu um barulho assustador do coturno batendo forte no chão. De repente tive a maior alegria, o maior alívio de minha vida ao perceber a multidão dispersando-se em todas as direções. Invadimos o sindicato, ficaram apenas três manifestantes. Pedi para eles saírem ou teria que levá-los presos, era a ordem. Apenas um barbudo, corajoso, magro, me encarou: “Só saio morto ou preso”. Disse-lhe “Como não vou lhe matar, esteja preso”. Fiz uma revista geral na sede do sindicato, mandei lacrar os móveis, deixei cinco soldados guarnecendo o sindicato, retornei com o resto do pelotão para o quartel da 2ª Cia de Guardas.
O pelotão marchando mais relaxado em duas colunas, uma de cada lado da rua, e o barbudo, sindicalista, andando no meio sozinho. Achei constrangedor, tive pena. Encostei-me e inventei na hora em seu ouvido: “Estão matando tudo que é comunista, como Fidel Castro fez em Cuba no Paredón, ao chegar ao quartel você vai ser fuzilado. Vou lhe dar uma chance, na próxima esquina lhe empurro e você sai correndo!”. O sindicalista olhou para mim, espantado. Perto da esquina, o barbudo, olhava para trás encarando-me com olhar suplicante. Na esquina, puxei-o pelo braço e o empurrei. Ele deu um pique, se escafedeu na primeira rua (ainda hoje deve estar correndo).
Durante o percurso de retorno, de cima dos apartamentos, alguns aplaudiam outros vaiavam. Ao passarmos pela Faculdade de Engenharia, alguns estudantes gritavam provocando: “Viva Arraes!” O sargento me incitava a dissolver os estudantes. Eu neguei, confesso, pensando em meu irmão Lelé, poderia estar entre os estudantes (e não é que estava! Eu soube depois).
No quartel fiz um relatório verbal. Nesse dia ainda cumpri outras missões patrulhando o Recife Velho. À noite, a televisão chamava de Intervenção Militar. Não havia aparecido o termo Revolução, nem Ditadura. Nenhum cientista político, nenhum futurista, nenhum especialista, para usar um termo moderno, seria capaz de imaginar que aquele 1º de abril seria o primeiro dia de Governo Militar ou Ditadura durante os próximos anos. Só sei que foi assim, sem tirar, nem pôr.
(ilustração de Ênio Lins)
ESTA SÉRIE “MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO” SERÁ PARTE DE UM LIVRO DE MEMÓRIA EM COMEMORAÇÃO AOS 80 ANOS DO AUTOR. AGUARDEM DEZEMBRO ( SEM CORONAVÍRUS)
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terça-feira, 28 de abril de 2020

OPINIÃO DO GUILHERME FIÚZA


"SOLIDADIEDADE PELA CULTURA"
Por Guilherme Fiuza


A cantora Lady Gaga fez uma parceria com a Organização Mundial da Saúde para a realização de um show virtual com o slogan "Juntos em casa". Foi uma ação para reforçar a mensagem do isolamento social e para arrecadar fundos para populações carentes atingidas pela epidemia. Na véspera do seu agradecimento à cantora pela iniciativa, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que o isolamento social total (horizontal) é uma medida que não serve necessariamente para todas as regiões do mundo.
A OMS nunca tinha sido tão explícita na relativização do lockdown. Algumas semanas antes, Tedros fizera referência aos problemas da medida para os que precisam circular diariamente para cavar sua subsistência. Os defensores de medidas de circulação controlada – lockdown vertical – citaram a fala do diretor da OMS para reforçar seus argumentos, mas a entidade desautorizou essa interpretação – indicando que o problema dos trabalhadores informais deveria ser compensado emergencialmente pelos governos.
O novo "statement" de Tedros Adhanom sobre o assunto, porém, veio modificar a diretriz do isolamento social em favor da sua flexibilização – e dessa vez a entidade não desautorizou os entendimentos nesse sentido. Ou seja: a OMS agora afirma que o distanciamento total não é a medida recomendável para todas as regiões – devendo ser flexível naquelas (especialmente nos países emergentes) onde, por exemplo, crianças e adolescentes ficarão sem sua refeição diária se não puderem ir à escola. Ou onde haja um contingente significativo de pessoas dependentes de circulação física para obter o seu "pão diário" (palavras de Tedros).
As ressalvas ao lockdown estão, naturalmente, inseridas no contexto das medidas de higiene e distanciamento pessoal, não aglomeração e isolamento dos grupos de risco – essas incondicionais e intocáveis. Ou seja: dependendo das condições sociais e da evolução local da epidemia, a OMS diz que o confinamento não só pode como deve ser parcial.
Até recentemente, quem propusesse esse tipo de flexibilização do confinamento tendia a ser tratado como inconsequente, no mínimo. Em boa medida ainda tem sido assim. Pode-se dizer que o tabu em torno do "fique em casa" radical e inegociável provém da própria postura anterior da OMS – cuja mensagem estabelecia o lockdown total como a única diretriz cientificamente responsável. Esse rigor absoluto foi sedimentado com a adesão das populações assustadas – e, portanto, determinadas à tolerância zero com riscos – e também de governantes locais, divididos entre os realmente comprometidos com a segurança da população e os que viram aí uma oportunidade de exercício autoritário do poder (e, eventualmente, de manipulação orçamentária).
O show de Lady Gaga e outras celebridades (como qualquer evento desse tipo) reforçou uma única mensagem, que é a do "fique em casa" – naturalmente sem espaço para esclarecer a flexibilização proposta pela OMS. Essa flexibilização é necessária justamente para as populações socialmente vulneráveis – aquelas às quais a campanha dos artistas pretende ajudar. Ou seja: a boa arrecadação do evento "Juntos em casa" possivelmente não irá suprir nem uma fração das perdas provocadas pelo confinamento total (e a decorrente asfixia social) que o show ajudou a perpetuar.
Guilherme Fiuza"
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sexta-feira, 24 de abril de 2020

quinta-feira, 23 de abril de 2020

HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA


                                     MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO (8)
                               GUILHERME PALMEIRA



        Somos amigos há muitos anos, nossos pais eram amigos, nossos avós e bisavós, somos amigos desde quando éramos índios caetés povoando o litoral alagoano. Quando eu morava no Rio nos anos 50, vez em quando ia à casa de Guilherme Palmeira na Rua Almirante Guilhobel. Depois de um bom almoço dominical, partíamos para o Maracanã assistir vitórias do Fluminense.
     As férias de verão em Maceió eram maravilhosamente aproveitadas: praia da Avenida, Pajuçara, réveillon da Fênix, carnaval nas ruas e nos clubes. Bela época dos anos dourados, vivíamos nossa cultura popular, época do cinema novo, da bossa nova. Revolução dos costumes, queríamos também transformar o mundo, como qualquer jovem.
   Certa vez no Engenho Prata, São Miguel dos Campos, em conversas e cervejinha gelada, Guilherme Palmeira comunicou ser candidato a deputado estadual nas eleições de 1966, alegria geral. Dias depois Esdras Gomes distribuía adesivos, GP 66. Foi uma vitória retumbante, iniciava naquele momento uma carreira política das mais admiráveis na história das Alagoas.
  No final de 1967 eu servia na 9ª Companhia de Fronteira, Roraima, fui promovido a Capitão e transferido para 20º Batalhão de Caçadores em Maceió. Ao chegar em casa pela  tarde, coloquei um calção desci à praia da Avenida, depois de um bom mergulho e braçadas naquele mar azul do tamanho do mundo, fiz uma promessa, nunca mais sair de Maceió. Cursei engenharia, deixei a carreira militar e cumpri a promessa.
 Naquela época Maceió era uma festa, tempo bom de viver na cidade amada, ensolarada Muitos amigos, muito calor humano, juventude sadia. Formamos um quinteto inseparável: Guilherme Palmeira, Marden Bentes, Eduardo Uchoa e Galba Acioly, solteiros e bonitos, fazíamos a festa aonde chegássemos. Éramos conhecidos entre as melhores famílias, entre as jovens deslumbrantes, como também nos bares e lugares não compatíveis às moças casadoiras. Convidados para batizados, casamentos, aniversários, alegrávamos as noites com bom humor e fidalguia. Jovens boêmios, considerados bons partidos, custamos a casar.
  Acompanhei a vida política de Guilherme Palmeira: deputado, governador, senador, prefeito de Maceió. Finalmente Ministro do Tribunal de Contas da União, aposentado se estabeleceu em Brasília, nunca esqueceu sua querida Alagoas. Vez em quando às sextas feiras reúne amigos na varanda do apartamento, praia da Ponta Verde para conversas e uma rodada de uísque.
Em 1988 houve eleição para prefeito de Maceió. Renan Calheiros candidatou-se tendo como vice o deputado Sabino Romariz, o mais votado na Assembleia, era uma chapa imbatível Nas pesquisas o IBOPE lá em cima. Como enfrentar o Renan? Em uma reunião da oposição, Benedito de Lira deu a sugestão: Guilherme Palmeira para prefeito e João Sampaio, vice. Fiz parte da coordenação de campanha. Fomos à rua, Guilherme visitou toda biboca de Maceió, chegávamos tarde às nossas casas. Afinal o dia da eleição, logo depois a apuração na mão, voto a voto, disputa acirrada. Final maior vibração. Guilherme ganhou por 6.845 votos Fomos para Avenida da Paz comemorar a vitória com uma passeata inesquecível
Guilherme prefeito, eu assumi uma Diretoria da Limpeza Urbana depois fui Secretário de Desenvolvimento Urbano. Travamos campanha e briga contra qualquer tipo de poluição. Descobri que era proibido colocar qualquer tipo de placa ou outdoor na ladeira da antiga rodoviária, anunciei que ia derrubar todas as placas e outdoors. Na véspera, ao término do expediente, recebi um telefonema de um advogado avisando que no dia seguinte ele daria entrada com uma liminar de um juiz na Secretaria cancelando a derrubada dos outdoors. Fiquei a pensar sozinho em meu gabinete. Tomei a decisão, convoquei os funcionários, fiscais, caminhão, para sairmos às seis da manhã, antecipei, derrubamos todos outdoors. Foi lindo aparecer uma mata verde exuberante que estava escondida. A liminar chegou às minhas mãos no local às nove da manhã, a derrubada já havia acontecido. O juiz mandou me prender. Eu me escondi em uma casa em Paripueira. Guilherme tomou as dores, assumiu ter ordenado aquela ação. Só não fui preso devido ao pulso firme de Guilherme e a competência do advogado Diógenes Tenório de Albuquerque em minha defesa. Lembrei esse fato mostrando a firmeza de caráter, honestidade, amor à sua terra, sapiência e liderança de Guilherme Palmeira, o melhor prefeito da história de Maceió. Desculpe o Rui. Hoje Guilherme vive cercado de amigos que o admiram. Ele orgulhoso do filho, Rui Palmeira, seu herdeiro político na decência e no amor à Maceió.

OBS – Esta série de artigos: “MEMÓRIAS DE UM OITENTÃO”, será um livro em comemoração aos 80 anos do autor neste 2020.
 

terça-feira, 21 de abril de 2020

SAUDADES DE DOIS MESES ATRÁS QUANDO TUDO ERA CARNAVAL


NINA, ESTAGIÁRIA DO BLOG - EM ISOLAMENTO SOCIAL ESPERANDO PARA TRABALHAR NA REDAÇÃO.


OPINÃO DO BERTOLUCI

MARCELO BERTOLUCI - DANDO PITACOS


PANDEMIA DE ASNEIRAS

Esse será meu último pitaco sobre esta história de corona vírus. Não tenho mais paciência para um assunto que parece ter transformado toda a humanidade em animais irracionais. Vide o caso abaixo:
“Trata-se de um conflito de valores constitucionais, mas o valor da saúde pública prevalece sobre o direito de ir e vir se o isolamento temporário constitui para os organismos nacionais e internacionais medida essencial para a defesa do interesse geral de proteção da população. A medida visa não a limitar a liberdade, mas a proliferação da doença — e, assim, a medida é em favor de quem é restringido no seu direito de sair de casa. Neste caso, o interesse público se sobrepõe.”
Trata-se de declaração de Miguel Reale Jr., ex-ministro da Justiça. Minhas opiniões a respeito são:
– Nossa constituição tem um monte de “valores” e “princípios”, mas “saúde pública” não está entre eles, muito menos acima dos direitos fundamentais.
– O objetivo dos direitos fundamentais estarem explicitados é justamente colocá-los acima de circunstâncias momentâneas e de decisões oportunistas de autoridades.
– Aliás, desde quando “organismos internacionais” são autoridade para declarar nulos os direitos constitucionais dos brasileiros? O Brasil deixou de ser um país soberano e eu não fiquei sabendo?
– Reale Jr. deveria ter vergonha de usar a velha desculpa do “estamos restringindo o direito do cidadão, mas é para o seu bem”. Logo adiante ele se contradiz: “o interesse público se sobrepõe.” Ué, mas os direitos constitucionais não existem justamente para garantir que os direitos do indivíduo não sejam esmagados pelos direitos da maioria?
Talvez alguns me chamem de chato. Talvez alguns engulam calados a idéia de que estamos em uma situação “especial” e que em situações especiais o governo pode tomar atitudes especiais. O problema é que o governo pode gostar da brincadeira e começar a criar situações especiais sempre que der vontade de fazer coisas especiais, e aí o negócio fica feio.
Fico imaginando algumas paráfrases para as declarações do ministro, seguindo a mesma lógica:
Se o governo está sem dinheiro:
“o valor do equilíbrio orçamentário prevalece sobre o direito à propriedade se o confisco de bens constitui para os organismos nacionais e internacionais medida essencial para a defesa do interesse geral da população.”
Se o crime aumentou:
“o valor da segurança pública prevalece sobre o direito ao devido processo legal se o julgamento sumário constitui para os organismos nacionais e internacionais medida essencial para a defesa do interesse geral da população.”
Se o crime continuou aumentando:
“o valor da ordem pública prevalece sobre o direito à vida se o linchamento coletivo constitui para os organismos nacionais e internacionais medida essencial para a defesa do interesse geral da população”.
Para quem não entendeu: segundo o doutor Reale, se “organismos nacionais e internacionais” (que ele nem diz quais são) acham que uma certa medida autoritária é “essencial”, danem-se os direitos individuais assegurados na constituição. Cuidado: a próxima vítima da bondade do governo pode ser você.